As legendas dos Santos Jorge da Capadócia e Cipriano de Antioquia: relíquias da controvérsia arriana (325-381 d.C.)

O historiador inglês Edward Gibbon, em seu clássico A história do declínio e queda do Império Romano, provocou certa discussão no interior da academia inglesa do final do século XIX ao afirmar que o mártir, santo e herói cristão Jorge da Inglaterra devia ser identificado com Jorge da Capadócia, bisp...

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Main Author: Souza, Marcos Gonzalez (Author)
Format: Electronic Article
Language:Portuguese
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Published: Universidade Estadual de Maringá [2015]
In: Revista Brasileira de História das Religiões
Year: 2015, Volume: 8, Issue: 22, Pages: 39-74
Further subjects:B Cristianismo Heresia Antiguidade Tardia
Online Access: Volltext (doi)
Volltext (kostenfrei)
Description
Summary:O historiador inglês Edward Gibbon, em seu clássico A história do declínio e queda do Império Romano, provocou certa discussão no interior da academia inglesa do final do século XIX ao afirmar que o mártir, santo e herói cristão Jorge da Inglaterra devia ser identificado com Jorge da Capadócia, bispo de Alexandria entre 356 e 361 d.C., ano de sua morte por linchamento. Jorge foi vítima da “controvérsia arriana”, uma disputa teológica sobre a natureza de Cristo que acirrou os ânimos de orientações doutrinárias adversárias: para os “arrianos”, como Jorge e o então imperador Constâncio, Cristo era uma criatura, por meio de quem o Pai fez as outras criaturas existirem; para os “trinitaristas”, como Atanásio de Alexandria, o Filho era partícipe de uma Trindade, três “realidades subsistentes” (hypostaseis) de uma mesma substância (homoousios, “consubstancial”). Desenvolvo, neste trabalho, uma solução que concilia a hipótese de Gibbon àquela de seus críticos, segundo quem o nome Jorge já estava associado a um santo mártir anterior à emergência histórica do bispo arriano. Com base em outra legenda, tão antiga quanto a de são Jorge - a dos santos Cipriano e Justina de Antioquia - apresento evidências de que, durante a controvérsia do século IV, a tradição hagiográfica do “santo-bruxo” da Síria foi apropriada não apenas pelo partido arriano, tal qual fizeram com a legenda de são Jorge da Capadócia, mas também pelos adversários trinitaristas. A chave para a conexão entre os documentos e a propaganda partidária é o “feiticeiro Atanásio”, personagem que é citado em determinadas versões das duas legendas. A despeito de ter existido um santo mártir homônimo, como quiseram os críticos de Gibbon, concluímos que, são Jorge da Capadócia pode, de fato, ser identificado, a partir da segunda metade do século IV, com o bispo arriano.
ISSN:1983-2850
Contains:Enthalten in: Revista Brasileira de História das Religiões
Persistent identifiers:DOI: 10.4025/rbhranpuh.v8i22.26654